thiagO nardOto
Na minha infância a música Aquarela de Toquinho sempre me impressionou, principalmente, e é lógico, por causa da propaganda da Faber Castel. Uma música que instiga a mente das crianças, sentia que podia construir tudo com a minha mente quando ouvia Aquarela, me divertia com as batidas da música, e adorava a animação da Faber na propaganda. Achei a animação da Faber de 1995. Que delícia aquele tempo!
Mas depois que comecei a ficar mais velho passei a entender a mensagem da música. Se ouvirmos até o final perceberemos que a música fala de morte, mas não no sentido negativo, e sim no sentido de que a vida está acontecendo e que temos na mão o poder de transformá-la.
Podemos dizer que nas duas primeiras estrofes os verbos estão no presente do indicativo e a voz é ativa, na primeira pessoa do singular, ou seja, o camarada que está cantando está completamente envolvido na ação, ele é que faz.
Observe:
"Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...
Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva..."
Interessante como podemos ser agentes de transformação da nossa própria história. Além dos verbos no presente do indicativo, temos o verbo fazer que está no infinitivo e sugere uma opção do desenhista em fazer o castelo, já que é fácil fazer. Outro verbo interessante é o verbo dou que embora esteja na presente do indicativo, ou seja, de fato está acontecendo a ação e o sujeito a está praticando, o verbo é antecedido pelo pronome pessoal oblíquo na primeira pessoa "me" dou, que deixa o verbo na voz reflexiva, logo o sujeito é o autor da ação e a pratica contra si!
Toquinho nos ensina isso nessas sentenças que podemos ser sujeitos ativos na construção da nossa própria vida, com opções e nos presenteando com o que temos e fazemos.
A incerteza e as coisas que fogem dos nossos planos também é uma mensagem revestida de uma linguagem deliciosa:
"Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho Azul do papel"
Quando bem captada essa mensagem não gera desespero, pois a vida em Aquarela é sempre possibilidades, e outra, é dinâmica! Ao mesmo passo que podemos transformá-la, somos alvos de suas incontinências, as vezes, ela foge ao nosso domínio!
Diante dessa incerteza e das contingências da vida, Toquinho nos dá uma dica:
"Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu..."
A voar no céu..."
Crie, aprenda e improvise... Quem sabe você pode voar?
"Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...
Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...
Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar..."
Fico confuso o que será que tem nesse avião? Enquanto isso o barquinho está navegando. Seriam as possibilidades da vida? Por que iríamos querer que ele pouse? será a morte? acho que não, seria muito prematuro sua partida! ele acabou de sair por entre as nuvens. Ao mesmo passo que partir seria importante, seria a oportunidade de quem está indo! Mas diante das oportunidades "se a gente quiser ele vai pousar...".
As coisas começam a ir e vir na música Aquarela... e as formas simples e abstratas já são complexas e concretas, e as cores? Ficamos adultos!
"Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...
De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...
Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está..."
Partida novamente é um tema explorado.
A Gaivota voa longe, bem longe e vai!
Um Barquinho a vela aparece e segue seu rumo.
O Avião surge e parte!
O Barco está de partida!
As coisas sempre estão indo, se vão! Mas as pessoas importantes estão sempre em volta, os amigos, a diversão. As experiências que aqui se apresentam são em conhecer o mundo a sua volta. E o futuro, quanta incerteza? embora o a caminhada que o menino faz seja algo extremamente pessoal, ele caminha, mesmo sozinho ou não, a caminhada é algo que cada um fará, mas o futuro, espera por todos!
"E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar [...]"
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar [...]"
Novamente a vida impera e o futuro tão incerto e tão impessoal pode nos fazer rir ou chorar, interessante é que embora, nos preparamos, planejamos, esperamos. Porém tudo é incerto em Aquarela, Saiba viver! Toquinho usou está metáfora da astronave de forma tão certeira, por que não avião? ou carro e trem?
A astronave nos leva a lugares inimagináveis, que mesmo diante do conhecimento humano, sempre nos deparamos com algo que não conseguimos lidar ou não conhecemos, talvez podemos saber conduzir a nossa própria astronave, mas não podemos determinar ou controlar os obstáculos que virão!
De fato, a vida não é um trem sobre os trilhos tão certeiros, nem um carro na pista, muito menos um avião em sua rota aérea, é uma astronave, tudo lá é diferente! Eis o futuro!
Da individualidade da primeira estrofe a comunidade no final da vida, observe:
"Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá..."
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá..."
A aquarela da vida vai acabar e a beleza das cores serão ofuscadas, todos caminham por essa passarela e ela um dia perderá sua cor! a morte chegará para todos, e por que não estar sempre cercado das pessoas que amamos?
Imagina, as crianças compreendendo isso? talvez se assustariam, mas quando compreendemos que isso é uma realidade para todo o ser humano, temos a oportunidade de mudar a nossa história e aprender a viver e lidar com os medos que nos surgem desde a infância!
POR FIM:
"Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)"
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)"
Entenda, embora tenhamos o poder de criar, mudar e transformar as coisas, tudo irá se acabar, devemos saber viver e lidar com a vida.
Não vejo morte em Aquarela, vejo vida e existência!
PERGUNTO:
Seu estojo escolar está com você?
O que acha de começar a desenhar e a colorir a sua vida?
Um grande abraço!
Segue abaixo a propaganda de Faber Castel que eu ficava viajando quando era criança:
Nossa, bacana a interpretação, e realmente essa música ligada a propaganda da Faber Castel motivava e encorajava muita criança a não ver limitações em ser criança. Eu confesso que também sempre viajava nessa propaganda e nas compras de materiais escolares tinha que ter Faber Castel. rs
ResponderExcluirE realmente, agora adultos a música não soa mais tão simplória, mas eu creio que dentro de cada um de nós ainda exista a criança. Em mim ela desperta quando eu menos espero e mais preciso.
Abraço!
Nunca percebi que a música falava de morte, pelo menos não tive essa visão, afinal na vida tudo um dia muda ou acaba, talvez por isso faça sentido, quando fala que descolorirá, não importa o que fazemos porque um dia vai acabar(descolorirá), mas que concerteza não deixaremos de fazer ou viver porque um dia vai acabar.
ResponderExcluirThiago, você é definitivamente um louco!!!
ResponderExcluirMuito boa a reflexição... Faça uma depois com a música sabor de mel!!! kkkkk... Abração!!!
Acho voce louco por Refletir essa coisas...rsrs
ResponderExcluirMas acho voce Brilhante por entender...
Voce é Brother... Fantastico!
Gente, obrigado pelos comentários!
ResponderExcluirMas, sabe que é legal refletir sobre essas coisas, acho que é o momento de dar uma pausa e ver quais são as cores que estamos colorindo a nossa vida, pois ela vai acabar!
Deixar o lápis cinza de lado e usá-lo na medida certa, e isso mesmo Maicon, vamos viver mesmo que acabe!!
Parafraseando a Luana é entender que há uma criança dentro de nós viva, e precisamos deixar um espaço para ela...
Grande abraçO!
Eu o lOuco
Legal Thiago, nunca parei pra pensar nessas coisas, nem nessa musica. Abraços, saudades.
ResponderExcluirOps: Reflexão e não reflexição... kkkkkkkk
ResponderExcluirmuito lindo o seu comentário. Adorei . voltei, vivi a infância novamente .
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