thiagO nardOto
O café esfriou, jogou a xícara no chão...
O café esfriou, jogou a xícara no chão...
Enquanto aquele horizonte
bucólico se desfaz em um fim de tarde, o tom alaranjado que sai por detrás das
montanhas lembra a luz vazante da fresta de uma porta num quarto de surpresas.
Sentou-se na cadeira de balanço e
agora acompanha os últimos raios de luz se desfazerem no céu. Quando a penumbra
é instaurada e a solidão é sua única companhia, para que levantar-se?
O balanço continua em cadência e
aqueles momentos preciosos de bela reflexão foram de repente raptados pelo
breu! Sua alma agora tão sombria traz a tona lembranças e a conclusão de que a vida
lhe escorre entre os dedos!
O frio a gelar a pele, diante de
um espelho que reflete a abóbada e lá, a lua. As lembranças mais profundas do
seu ser tomam vida e lhe contam uma história. A juventude roubada pelo
desespero dos dias, o no-hall que a
dialética logo sintetizou, os amores que nunca ficaram, e a felicidade dos
desafetos. O vazio que impera e a tardia percepção de que nada tem, só mesmo a
contemplação, é o que ficou.
Os dias também lhe fora belos,
mas a vida hoje lhe é um castelo de areia que a onda leva a cada vez que vem
lhe visitar. Do que é eterno, do que um dia lhe trouxe beleza ao rosto, a saber
os verdadeiros amores, a bela família, os grandes amigos, dinheiro e poder... o
tempo se encarregou de tirar! Em cada outono alguém se ia para nunca mais
voltar, como odeia o outono!
O tempo não para, e ainda por cima não é eterno! Nada é para sempre...
O tempo não para, e ainda por cima não é eterno! Nada é para sempre...
Alvorada!
Aquilo lhe espantou!
Levantou-se então da cadeira que
continuou no ritmo cadenciado, nunca parou! Sem embaraço deu o primeiro passo com
sua nudez insolente, enquanto uma lágrima escorria pelas fendas, as pisadas eram firmes! Um pardal construindo o ninho, um beija flor se exibindo. Chegou
bem perto e com uma face triste, deu um sorriso que lhe faltavam dentes.
olhou para as mãos e disse e ouviu um pássaro dizer:
tá
esperando o quê? ainda dá tempo!