segunda-feira, junho 27, 2011

de Seguro a Alcatraz

thiagO nardOto

Já era tarde da noite e estávamos conversando, em desabafo um amigo meu disse que aprendeu a não criar expectativas para algumas coisas, a saber, para os relacionamentos. Achei maduro de sua parte ter esta “zona de segurança”, pois, até onde entendi a sua não-expectativa é não-expectativa-precoce, é a compreensão de que o tempo edificará fortes relacionamentos e para menores traumas, este caro amigo, criou para si uma zona de segurança, não entrando de cabeça em uma relação. Certo momento ele me disse que talvez não conseguiria amar novamente, penso que isso seja apenas um desdobramento de sua “zona de segurança” lhe protegendo de possíveis experiências traumáticas, mas é claro que amará novamente, ele é resiliente!
Este breve diálogo com Alexandre (um bom pseudônimo não?) me fez pensar bastante a respeito do que as expectativas tem a ver com os relacionamentos, como seria viver sem expectativas e de uma forma geral como ela é importante?
Na vida conheceremos muitas pessoas, mas apenas algumas conseguirão entrar de forma tão profunda em nossas vidas, quando percebemos que determinados relacionamentos são promissores, pois uma série de fatores indica isso: a identificação, a simpatia, a diversão, a lealdade, etc. sugerem que pode acontecer algo mais profundo nesses laços, e ai existe a expectativa de que sentimentos mais sofisticados possam envolver esta relação, tais quais, a empatia, compaixão, fidelidade, companheirismo, amizade, amor, etc. Ter um relacionamento mais concreto nas multifaces do amor torna-se uma possibilidade ou até mesmo um acontecimento.
Estar numa ilha não significa desfrutar de suas belezas!
A expectativa é algo que sempre irá acontecer, faz parte dos anseios da psique. Assim como uma amizade acontece, um amor nasce e se consolida, o revés também é contingência. A expectativa gira em torno das possibilidades e infelizmente, ou, felizmente não é matemático, talvez Sheldon o grande físico do seriado The Big Bang Theory desenvolva alguns cálculos de análise combinatória, estatísticas, afinal sua vida é pautada por métodos exatos e de uma forma bem hilária vemos Sheldon acertar e errar! Não há como aplicar métodos assim para a vida individual deixemos as ciências usarem os cálculos de probabilidade para os seus devidos fins, na vida onde há tato, o que nos resta é experienciar a expectativa, a especulação é especulação!
Dessa forma, vejo que a expectativa é ansiedade, é probabilidade, é espera, e melhor: esperança. Seu revés é a desmotivação, poderia considerar também a frustração, é o baque do desapontamento, e por fim, a decepção. Como seria viver uma vida sem expectativas? Ter expectativas corresponde a correr riscos, o risco de assumir a responsabilidade do que virá a acontecer e administrá-lo. Viver uma vida sem expectativas, sem a magia da esperança é como acordar sempre num dia cinzento, não ver a beleza das cores é ver que as “zonas de segurança” quando não bem delimitadas tornam-se grande prisões, ser prisioneiro de si é ser julgado é ter o pior julgamento, onde o juiz é o “si”.
Se levássemos ao pé da letra a vida sem expectativas, poderíamos fazer uma lobotomotização na sociedade, tiraríamos a beleza e as emoções, logo sem expectativas mataríamos o mistério, como nos relacionaríamos com as dúvidas? Não sei! Mas as respostas tão necessárias talvez não fossem encontradas, e se encontradas, não haveria a vibração, a pulsação e a adrenalina do gol das finais de Copa.
Quanto ao novo? O novo sempre será o novo! Mas quando se vê somente nuvens cinzas e densas, na ausência de expectativas como se pode esperar dias de sol? O novo é cinza em dias lobotomizados, e na porta do coração encontraríamos grades de Alcatraz!
Como a expectativa é importante em quaisquer situações, precisamos dosar o medo que impera e tira a beleza e o mistério das possibilidades, assumir o risco de ser feliz e compreender que isso é responsabilidade!
Que a expectativa gere dúvidas, sim gere dúvidas, traga a esperança e a ânsia em ver o rosto do menino, que ainda está em segredo na barriga da mãe, que nos ensine a lidar com os desapontamentos, e assim, a uma consciência de humildade, pois os desapontados e decepcionados, também já estiveram do outra lado.
Vivamos a expectativa em uma consciência equilibrada sem extingui-la e também sem super dimensioná-la. Cuidado, as nossas “zonas de segurança” podem se tornar fortalezas, Alcatraz!
Good Luck!


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